terça-feira, setembro 11, 2012

De vítimas dos bandidos a vítimas do sistema

Um dia desses fui almoçar como minha namorada. Trabalho de noite e ela de dia. Momento bom pra ficar junto. Parei meu carro às 11h30, no Centro da cidade, em um local bastante movimentado. Caminhei tranquilamente para a porta do local de trabalho dela. Fomos a um restaurante ali perto. Almoçamos bem. Conversamos um pouco ali mesmo e voltamos para a porta do serviço dela. Chegando lá, ainda faltavam 20 minutos do horário de almoço. Ela sugeriu irmos para meu carro, sentarmos e ouvir uma música. Quando cheguei ao local onde havia estacionado, me deparei com uma vaga vazia. Não acreditei no que vi. Meu carro havia sido roubado em menos de 40 minutos! Liguei imediatamente para o 190, número da polícia. A atendente me perguntou a placa do carro pra verificar se havia alguma informação. Constatou que ele não havia sido rebocado. Claro que não! Eu parei em local permitido! Pegou todas informações e falou que estava mandando um policial para pegar mais informações. Como é de conhecimento de todos, eles demoram muito para chegar ao local do crime. Liguei então para um amigo jornalista que trabalhou por muito tempo com a cobertura da polícia na região. Influência nessas horas conta muito. E outra, ele colocou no facebook. Qualquer divulgação, traria mais informações rapidamente. Lembrei também que minha namorada é amiga de um policial. Peguei o telefone e fiz contato. Ele pegou as informações do veículo e acionou varias viaturas para fazer o cerco em todas saídas da cidade. Nesse meio tempo, chegou um policial a pé, para começar a fazer as perguntas sobre o que havia ocorrido. Já haviam se passado mais de 15 minutos que eu tinha ligado para o 190. Começou então a sabatina. Tudo que já havia falado pra atendente, tive que falar novamente para o policial a pé. Enquanto explicava a situação, ele anotava em um pedaço de papel amassado e repassava por um rádio comunicador de mão caindo aos pedaços. Cinco minutos depois chegou uma viatura com mais dois policiais, que novamente me fizeram as mesmas perguntas. Uns 10 minutos após a chegada deles, vieram informações de que tinham achado meu carro. Os policias entraram na viatura e saíram em debandada, deixando eu e minha namorada a pé, com a (des)informação onde se encontrava meu automóvel. Seguimos então para lá. Chegando perto do lugar, liguei para nosso amigo policial, que deu a informação correta. Ao chegar no local exato onde o carro estava, vi um muro com marcas de batida e meu carro em cima do meio fio, com a frente toda destruída. Deu um aperto no coração. Muitas aventuras já vivi com esse meu “amigo” desde 1998. Doze anos de companhia. E ele lá destruído! Os policiais me informaram que eram dois os bandidos que fizeram o roubo. Eles haviam capturado um, que estava armado com um revolver .38, com o tambor quebrado, sem munição. O outro fugiu a pé. Prontamente um policial me falou o que havia ocorrido: os marginais, ao avistarem a viatura que fazia o cerco, deram meia volta e fizeram a fuga em direção ao centro da cidade. Como que se desculpando, por não ter conseguido reaver meu carro intacto, disse que ao perseguirem os bandidos em nenhum momento fizeram manobras para os marginais baterem meu carro. Tenho que acreditar. Logo chegaram curiosos, repórteres de rádio, TV e jornal. A perita da polícia civil também chegou fazendo anotações e tirando fotos para o arquivo da perícia. Um caminhão guincho chegou em seguida. Perguntei se eu teria que pagar por ele. O funcionário do guincho falou que sim e custava R$ 128. Me espantei com a situação e fui perguntar para os policiais se era assim que funcionava. “Isso. Esse é o guincho conveniado com a polícia. Tem que ser ele. Vai levar seu carro para o pátio. Lá vão fazer a perícia. Pra ver se não foi usado em outro crime, se mudaram o chassi...”, disse. “Mas a perita já viu o carro! Num deu tempo deles fazerem nada. Tem menos de 1:30 que eu parei o carro lá na rua”, retruquei. “É assim que funciona”, respondeu. “Posso pelo menos chamar outro guincho?,” perguntei. “Não. Tem que ser esse conveniado com a polícia,”, falou, já ficando irritado. Nisso meu carro já estava em cima do caminhão guincho. Segui então, novamente a pé, para o posto policial para fazer o Boletim de Ocorrência. Ficamos eu e minha namorada em pé das 14h50 às 18h. O bandido algemado sentado no chão e a gente em pé. Obrigados a ficar ali ou sentado do lado do bandido enquanto eles faziam o registro da ocorrência. Eles me informaram que estava demorando porque o marginal mudava toda hora as informações sobre ele. Depois disso tudo, ainda fomos à delegacia, prestar depoimento. Saímos de lá já era 20h40. Nós - vítimas da falta de segurança - fomos tratados como cúmplices da situação, por um sistema que “funciona desse jeito”, como todos os policiais me disseram. No dia seguinte, minha luta e indignação continuariam. Tive que voltar à delegacia às 15h para conseguir a liberação do meu carro. O atendimento só começou às 16 horas, porque o delegado tinha ido almoçar ao meio-dia e ainda não havia voltado. Com a “pré-autorização” em mãos, tive que seguir para outro setor da delegacia caindo aos pedaços . Lá o caos estava formado. Várias pessoas esperando. A rede de computadores fora do ar. Esperamos mais um bom tempo. Até que as 17h30 consegui pegar a autorização final. Tinha então meia hora para arrumar um guincho e retirar meu carro do pátio, que fica bem distante da delegacia. O trânsito do fim de tarde véspera de feriado era caótico. Achei que não conseguiria. Mas Deus me ajudou. Às 18h em ponto cheguei ao pátio. Consegui tirar meu carro de lá. Mas tive que pagar os R$ 128 do guincho “conveniado com a polícia”. E tive também que pagar outro guincho para tirar o veiculo de lá, por causa dos estragos da batida. Mas dessa vez eu pude escolher um guincho não conveniado. E para minha surpresa, o valor de outros guinchos da região é de R$ 60. Menos da metade do conveniado com a polícia. Um absurdo. Esse é o país em que vivemos. Pagamos impostos para ter segurança nas ruas, mas não a temos, somos tratados como meros personagens nos crimes que cometem contra nosso patrimônio e ainda obrigados a pagar caro por um serviço que deveria ser prestado gratuitamente ao cidadão em dia com seus deveres. Com diz o Boris Casoy, “Isso é uma vergonha!”